Sete em cada dez jovens mudam de emprego em menos de um ano

Estudo mostra que o número de trabalhadores que saem de seus postos de trabalho em relação ao estoque de trabalhadores é de 72,4% entre os jovens de 15 a 24 anos

Priscila Chammas

priscila.chammas@redebahia.com.br

Vivianne Ramos é jornalista e trabalha com carteira assinada há quatro anos, mas nunca conseguiu tirar férias. No entanto, não há nenhum direito trabalhista desrespeitado nessa história. É que, como sete em cada dez jovens de 15 a 24 anos, ela não consegue ficar um ano inteiro em nenhuma empresa.


Nada de férias: em quatro anos, a jornalista Vivianne Ramos trocou de emprego cinco vezes

Quer dizer, não conseguia. Hoje, aos 25, ela garante que finalmente  “se achou”. “Me formei aos 21 e nesses quatro anos já passei por cinco empresas. Não mudei necessariamente por salário, mas por qualidade de vida e identificação mesmo com o que eu estava fazendo. Agora consegui chegar onde queria e não pretendo sair daqui tão cedo”, garante, sobre a empresa em que trabalha desde fevereiro deste ano.

O Boletim de Mercado de Trabalho, divulgado anteontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostra que o índice de rotatividade entre os jovens é quase o dobro do índice das pessoas com mais de 24 anos. Os números mostram que a taxa de separação (razão entre o número de trabalhadores que saem de seus postos de trabalho em relação ao estoque de trabalhadores) é de 72,4% entre os jovens de 15 a 24 anos.

Já a taxa de separação dos trabalhadores com 25 anos ou mais é de 41,3%. Em outras palavras, em um ano, quatro em cada dez adultos mudam de emprego, enquanto entre os jovens, essa proporção é de sete em cada dez. Na conta, estão consideradas tanto as demissões voluntárias quanto as involuntárias, e os motivos para a diferença entre os números são muitos. Entre eles, a grande incidência de empregos temporários entre pessoas muito jovens.

Dono da Central do Carnaval, o empresário Joaquim Nery  conta que todo período carnavalesco aumenta seu quadro de funcionários de 120 para 850. “Desses, alguns têm contratos de três meses, mas a maioria é só para os 15 dias da entrega de abadás”.


No Carnaval, Nery chega a empregar 850 jovens de 18 a 22 anos

O perfil dos funcionários temporários é bem parecido com o da pesquisa do Ipea. “A maioria são jovens de 18 a 22 anos, universitários e com perfil de primeiro emprego. Eles já sabem que o contrato tem prazo para terminar”, conta ele.

Nery conta também que, mesmo entre as funcionárias das lojinhas que funcionam o ano inteiro, a rotatividade é alta. “A gente já sabe que eles vão ficar um ano ou dois e depois vão embora. Normalmente são jovens que acabaram de entrar na universidade e logo vão sair para procurar algo na sua área”, explica.

Incertezas
“É uma fase de incertezas, eles ainda estão experimentando, não sabem exatamente o que querem ainda”, explica a presidente da Associação Brasileira de RH (ABRH-BA), Ana Claúdia Athayde. E ela lembra que essa prática de “pular de galho em galho” é malvista pelos recrutadores. “Quando o recrutador percebe que o candidato passou por muitas empresas num curto período de tempo, ele pensa: ‘Ele não para em lugar nenhum’. E isso é fator de eliminação”, alerta. Segundo Ana Cláudia, essa rotatividade pode ser vista como instabilidade e dificuldade de adaptação.

Já o diretor da Elancers, maior empresa de sistemas de recrutamento e seleção online do Brasil, Alexandre Nunes, destaca uma característica típica da chamada ‘geração Y’. “Eles  são de uma geração muito acostumada com a liberdade, de poder dizer o que pensa, fazer o que quer. Aí chegam numa empresa em que não pode entrar no Facebook, não pode fazer as coisas do seu jeito e ainda tem que seguir muitas regras, acabam não aguentando muito tempo”, explica.

Segundo ele, 56% dos jovens recém-saídos da universidade querem ter um negócio próprio. “Justamente porque aí vão poder fazer as coisas do jeito deles”, explica.

Outro fator que colabora para a alta rotatividade é que hoje o jovem bem preparado pode se dar ao luxo de escolher onde quer trabalhar. “O mercado atualmente está muito mais aquecido que há duas décadas. Ele troca de empresa porque acha oportunidades melhores na concorrência. Isso é mais forte nas classes A e B, porque sabem que poderão contar com o apoio dos pais”, afirma.

Fonte: Correio24Horas.com.br

“Correio” – Publicado em 06.09.2013 às 07h14

http://www.correio24horas.com.br/noticias/detalhes/detalhes-1/artigo/sete-em-cada-dez-jovens-mudam-de-emprego-em-menos-de-um-ano/

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